Indicação de Artigo - Redes de escritórios: A globalização da advocacia.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010
por Ricardo Freitas Silveira


A maioria dos profissionais da área jurídica permanece o dia todo, quase que ininterruptamente, em frente a um desktop. A maior parte deste mesmo grupo, ainda que fora do ambiente de trabalho e após o expediente, continua incessantemente monitorando on line as informações através dos e-mails, a isto somadas as freqüentes trocas de mensagens por MSN e a multiplicidade de posts via Twitter, sem contar os comentários e notícias dos blogs.

Fato é que estar conectado 24 horas por dia, 7 dias por semana, é notadamente comum para os que compartilham da dinâmica própria do ambiente jurídico que permeia o mundo corporativo, cada vez mais transnacional e deliberadamente inóspito para o conhecimento estático.

O advento da internet e de suas extraordinárias ferramentas de comunicação eletrônica, além de manter o profissional do direito informado (desde que selecione adequadamente suas fontes de informação), permite e potencializa a criação de inúmeros relacionamentos entre as sociedades de advogados, formando autênticas redes de escritórios, tanto para o incremento de trabalhos entabulados estruturadamente quanto para atividades pontuais relacionadas ao atendimento de demandas específicas.

Tais ferramentas tecnológicas utilizadas para conexão e otimização do fluxo de informações entre os escritórios permitem, por exemplo, que mesmo fora do escritório, um advogado de Manaus receba de seu correspondente, via mobile, cópia digital de um protocolo realizado na mesma hora em Brasília.

Num passado não muito distante, os advogados percorriam distâncias hoje inimagináveis para cumprir simples diligências e comparecer a audiências de casos de nenhuma expressão e baixa complexidade. Lembro-me ocasionalmente de um colega de faculdade, hoje diretor jurídico, que chegava atrasado às aulas porque havia ido de São Paulo à Curitiba para meramente fazer um protocolo. Situações como esta hoje são caricatas, pois são um monumento ao anacronismo. Atualmente, como gestor de um departamento que presta contas de todas as despesas e que diariamente é pressionado para redução de custos, ele invariavelmente contrata um escritório correspondente para fazer o mesmo trabalho e, sem prescindir da qualidade, aufere uma expressiva redução de despesas.

Outro fato propulsor do crescimento da interação, sinergia e conectividade entre escritórios foi o exponencial crescimento das demandas relativas aos direitos do consumidor, que nos termos do inc. I do art. 101 do CDC, podem ser propostas no domicílio do autor da ação. Assim, uma empresa sediada em determinada capital da federação pode possuir, e não raro efetivamente possui, demanda jurídicas em todos os Estados da Federação, valendo lembrar que no Brasil temos nada menos que 5.564 Municípios.

Vale ressaltar que algumas empresas, por estratégia de negócio, optam por centralizar a contratação num único escritório para gerenciar os serviços dos demais. Tal gerenciamento consiste na seleção, contratação, controle e pagamento de inúmeras outras sociedades ou até mesmo de advogados autônomos. Neste sentido, é de mister reconhecer que a terceirização dos serviços jurídicos implicou a criação do que na atualidade denomina-se “quarteirização”.

Não obstante seja a escolha de uma parcela notadamente cada vez menor, algumas empresas decidem realizar a produção intelectual (peças) dentro do departamento jurídico e terceirizam somente alguns atos em alguns processos, internalizando o contencioso de massa, mesmo sendo ele em quantidade expressiva.

Importante destacar que alguns clientes pessoas físicas possuem negócios, especialmente imóveis, em mais de um Estado, o que também cria a conexão entre os escritórios que militam primordialmente na advocacia individual. A globalização das relações interpessoais e dos negócios entre as empresas invariavelmente acarreta na globalização da atuação jurídica, caracterizada pela prestação dos serviços jurídicos na forma de redes.


Associações de escritórios em redes é prática comum nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, o número de redes formalmente constituídas ainda é pequeno. Os grandes escritórios, por exemplo, limitam-se às redes internacionais e simplesmente não participam das redes nacionais, mesmo tendo demandas em todo território nacional.

Em 2009, como resultado de inúmeras trocas de e-mails entre um grupo de discussão sobre marketing jurídico e geração de novos negócios, foi criada a Rede de escritórios LexPerfecta. De acordo com o advogado Alcides Correa de Souza Junior, sócio do escritório Correa de Souza Advogados Associados, por hora o único representante da rede na cidade de São Paulo, os benefícios da associação foram imediatos e significativos. “Os resultados foram imediatos. Desde o primeiro mês o contato com escritórios de outros Estados tem produzido novas receitas e a diminuição de despesas operacionais”.

Segundo Rudinei Modezejewski, administrador da mesma rede, outra grande conseqüência é a presença de grandes especialistas em temas específicos. “A LexPerfecta tem especialistas em Direito Eletrônico, Direito Educacional, Direito Eleitoral, entre outras matérias, o que permite que os escritórios atendam clientes em demandas que antes eram recusadas por falta de especialidade”.


Conexão, relacionamentos, competitividade e resultados efetivos. A globalização da advocacia é uma realidade. Diante deste ilimitado e sempre crescente número de oportunidades de parcerias e negócios na advocacia, faz-se necessário que escritórios e advogados decidam pelo crescimento e profissionalização da atividade, sempre de forma planejada e sustentável.


Ricardo Freitas Silveira é consultor de escritórios, sócio da Marcka – Marketing e Recrutamento Jurídico, e diretor do Jornal A Comarca do Mundo Jurídico.